Produção de peixes em cativeiro não para de crescer em Rondônia

Produção de peixes em cativeiro não para de crescer em Rondônia

A produção de peixes em cativeiro levou o Globo Rural à Rondônia, onde essa atividade não para de crescer.

Pelos últimos dados do IBGE, o estado já era o terceiro maior produtor do Brasil em 2014 e veio subindo em ritmo acelerado. Para se ter uma ideia, apenas um ano antes, em 2013, estava em sexto lugar.

Luminosidade, calor e muita, muita água. O ambiente amazônico sempre foi bem favorável a eles, mas no país que tem o segundo rebanho bovino do mundo, o gado ainda é dominante na paisagem. Só que olhando do alto, já é possível ver uma certa mudança no cenário.

A mais de 1,5 mil quilômetros do oceano mais próximo em linha reta, já dá pra dizer que, sem dúvida, Rondônia está pra peixe…

A piscicultura é a atividade que mais cresce no estado. Aumentou quase 400% entre 2010 e 2015. Em área e em produção. A estrela principal: o tambaqui, peixe nativo, rústico, bem adaptado.

Bruno Leite administra a fazenda Santa Ana, em Ariquemes, a 200 quilômetros de Porto Velho. Ele conta que a história da propriedade se divide em décadas, a partir dos anos 70.

Foram 10 anos com projetos de cacau e seringueiras, incentivados pelo Governo Federal e que fracassaram. Nos 20 anos seguintes, o gado, que consolidou a fazenda, e nos últimos 10 anos, o peixe.

Como se não bastassem todas as condições naturais favoráveis à piscicultura, Rondônia tem uma lei específica, estadual, que facilita, incentiva, até explica em grande parte o interesse pela atividade. Essa lei permite o que é proibido em outros lugares.

Os projetos, os tanques, podem ser implantados no próprio leito dos igarapés, nos riachos que cruzam as propriedades ou até nascem dentro delas. A condição é que as margens já têm que estar degradadas com a retirada da vegetação, o que foi, na verdade, prática comum no passado da região.

Hoje, a ordem é recompor a vegetação das margens e existe o compromisso de fazer isso ao redor dos tanques.

Só a Santa Ana produziu 40 mil mudas de árvores nativas no ano passado e vale a pena, pela rentabilidade da piscicultura. Segundo o fazendeiro, os 200 hectares de represas e tanques rendem o mesmo que os 4,5 mil hectares de pastagens.

“A piscicultura é uma atividade bastante intensiva, se assemelha a atividades que hoje já são bastante profissionais no Brasil, como a suinocultura e a avicultura. E ela oferece uma renda bastante elevada por hectare de área ocupada”, explica Bruno.

O lucro sobre o faturamento é de 20 a 30%, contra os cerca de 10% da pecuária extensiva.

A ração representa 70% do custo de produção, mas não é tudo, explica o engenheiro de Pesca da fazenda, Sérgio Fukushima. “Tem que ter mão-obra-especializada, tem que ter tecnologia, controle de qualidade da água”, diz.

O investimento é de R$ 40 mil para implantar um hectare, que pode produzir 8 toneladas de peixe por ano.

Em tanques de peixes mais jovens, no meio dos tambaquis encurralados pela rede há alguns pirarucus. E não é por acaso. Eles servem para combater peixes nativos, que invadem as represas e podem consumir o oxigênio e ração destinados à criação.

O abate dos tambaquis também acontece na fazenda mesmo. Abate a frio. Ou a gelo, no caso. Os peixes não resistem muito tempo nos tanques dos caminhões que vão buscar a produção e seguem para o frigorífico.

Lá dentro, sempre em movimento, eles são pesados, um a um, e automaticamente separados por tamanho.

Tudo o que está sendo produzido em Rondônia tem basicamente dois mercados. Os dois, fora do estado. Os peixes que pesam entre 1,5 a 2,2 kg são peixes que o frigorífico usa para fazer cortes, como costela, filé, e é o peixe que os mercados do Centro-Oeste e Sudeste consomem. O outro mercado é o mercado de Manaus, que pede um peixe um pouco maior, de 3,5 kg em média. O mercado de Manaus é o maior consumidor de pescado do Brasil.

A diminuição da pesca, inclusive pelos períodos de defeso, em que ela é proibida para favorecer a reprodução dos peixes, também foi abrindo espaço para os peixes de cativeiro.

O futuro é a agregação de valor e o frigorífico em Ariquemes já faz isso, processando e embalando pequenas porções de acordo com as exigências de cada mercado. O plano é triplicar de tamanho, no mesmo terreno. E bem ao lado, já existe uma fábrica de ração para peixe, que está quase pronta.

Além da produção em larga escala, pequenos agricultores também têm condições de produzir peixe, em boa quantidade e em áreas muito menores. Confira como funciona o trabalho no vídeo com a reportagem completa.

Marcos Neris

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