‘Marielle incomodava’, diz assessora
Assessora que estava ao lado de Marielle Franco quando a vereadora foi executada, Fernanda Chaves afirmou que a chefe incomodava. Mas ela não soube identificar uma situação específica para justificar o atentado. “Era um conjunto de coisas, a Marielle incomodava”, afirmou.
Neste domingo (10), Fernanda falou pela primeira vez sem esconder o rosto. “Ela era obviamente crítica à ação das milícias, não tinha as milícias como alvo. Institucionalmente, ela tinha uma limitação como vereadora. O mandato dela estava muito mais voltado para questões de gênero, de violência contra a mulher”, emendou Fernanda.
A assessora acrescenta que Marielle não tinha se indisposto com ninguém na época. “Ela não teve um problema específico que pudesse ter engatilhado uma situação que culminasse com o assassinato dela”, afirmou.
Quase dois meses após o crime, em maio, uma publicação do jornal “O Globo” deu indícios do que pode ter sido a articulação para matar Marielle. A reportagem mostrou que uma testemunha deu à polícia informações que implicaram no crime o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-PM e miliciano Orlando Curicica.
A testemunha – que integrava uma milícia na Zona Oeste do Rio e foi aliado de Orlando – contou à polícia ter testemunhado uma conversa entre Siciliano e o miliciano na qual os dois arquitetaram a morte da vereadora. A motivação para o crime, segundo a testemunha, seria a disputa por áreas de interesse na região de domínio de Orlando.
“Ela peitava o miliciano e o vereador. Os dois [o miliciano e Marielle] chegaram a travar uma briga por meio de associações de moradores da Cidade de Deus e da Vila Sapê. Ela tinha bastante personalidade. Peitava mesmo”, revelou a testemunha, de acordo com o jornal.
Tanto Siciliano quanto Orlando negam ter planejado a morte da vereadora. No mês seguinte, o miliciano foi, a pedido da Segurança Pública do RJ, transferido para uma unidade prisional de segurança máxima.
- Testemunha diz que Marcello Siciliano (PHS) e Orlando de Curicica queriam Marielle morta
- Motivação seria avanço de ações comunitárias da vereadora na Zona Oeste
- Conversas sobre o crime teriam começado em junho de 2017
- Ex-aliado de Orlando citou, além de Siciliano e o miliciano, outras quatro pessoas
- Um homem chamado “Thiago Macaco” teria levantado informações sobre Marielle
Outra linha de investigação surgiu em agosto: Marielle, que trabalhou com o então deputado estadual Marcelo Freixo, teria sido morta por vingança.
“Tudo o que eu construí no Rio de Janeiro, ela construiu comigo. Então é claro que, quando alguém mata a Marielle, me atinge de forma muito forte, de forma muito brutal. Não sei se essa era a intenção de quem matou a Marielle”, disse o hoje deputado federal.
Os deputados do MDB fluminense Paulo Melo, Jorge Picciani e Edson Albertassi, adversários políticos de Freixo, passaram a ser investigados. Presos por corrupção, os parlamentares negaram envolvimento no crime.
Também em agosto, foi noticiada a descoberta de um grupo que ficou conhecido como “Escritório do Crime”, uma quadrilha formada por policiais e ex-policiais. O envolvimento desse grupo nos assassinatos de Marielle e Anderson explicaria a dificuldade de esclarecer o caso.
INVESTIGAÇÃO DA INVESTIGAÇÃO
A Polícia Federal começa a apurar a possibilidade de haver fraudes na investigação do caso. Em 21 de fevereiro, a PF cumpriu mandados de busca e apreensão para apurar tentativas de dificultar os trabalhos dos investigadores.