Workshop discute os desafios para a produção familiar

Workshop discute os desafios para a produção familiar

O primeiro dia de trabalhos do XII Congresso Internacional do Leite reuniu cerca de 700 profissionais, acadêmicos, empresários, empreendedores do setor produtivo leiteiro no XII Workshop de Políticas Públicas voltadas para o segmento. O evento foi realizado pela Embrapa, no anfiteatro da Ulbra, em Porto Velho, e contou com a presença de especialistas e estudiosos nacionais e internacionais na produção leiteira e na participação da agricultura familiar na atividade. Segundo especialistas, a sucessão no campo está comprometida, mas existem ações que se apresentam favorável à produção de leite.

A produção leiteira tem papel importante na estruturação da agricultura familiar, não somente por oferecer ocupação de mão-de-obra da família, mas pela oportunidade de geração e aumento real de renda em curto espaço de tempo. Mas, mesmo aparecendo nas diversas regiões do país como um elemento de produção importante, segundo “A produção familiar de leite no Brasil”, artigo publicado no site da Universidade de Ensino Superior do Sul do Maranhão – Unisulma (http://www.unisulma.edu.br//Revista_UNI_artigo2_p31_49.pdf), as condições de permanência na atividade leiteira são incertas. Ao retornar ao campo, após a ida para a cidade em busca de estudo, os jovens enfrentam dificuldades para se integrarem à realidade. Isto compromete a sucessão nas famílias produtoras e a mão-de-obra rural.

Essa discussão foi levada aos participantes do XII Congresso Internacional do Leite, pelo pesquisador Vilson Marcos Testa, do Centro de Pesquisa da Agricultura Familiar da Epagri-SC, ao proferir a palestra “A agricultura Familiar como estratégia para o aumento da produção de leite no Brasil”, nesta manhã. Para o pesquisador, são grandes os desafios enfrentados pela agricultura familiar e, entre eles, destaca a falta de política de cotas de produção e acesso ao mercado, a isenção crescente dos encargos sociais sobre a mão-de-obra assalariada, a predominância do desenvolvimento tecnológico voltado para produção e a não vinculação do crédito rural à assistência técnica e extensão rural e a sistemas tecnológicos de produção mais adequados. Contudo, a agricultura familiar tem demonstrado capacidade muito grande de produção, acompanhando a crescente demanda por leite e derivados. Várias regiões, inclusive Rondônia, têm aumentado sua produção de forma expressiva.

A América Latina conta hoje, com mais de três milhões de produtores de leite em 19 países. Destes, apenas 387 mil são produtores empresariais, o que revela a predominância dos pequenos e médios produtores na atividade leiteira.  No Brasil essa atividade está presente em 1,8 milhões de propriedades rurais e 80% são de unidades familiares que produzem leite. “Em Santa Catarina esse índice chega a 90%”, diz o pesquisador, que não acredita que o país será exportador de leite e derivados para o comércio internacional e nem que atingirá índices iguais aos dos europeus, onde o clima é mais frio, mas garante que é possível trabalhar com uma média de 160/180 litros de leite per capita comercializado.

 

Exemplo de Sucesso

 

A experiência da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios serve de inspiração para as outras regiões do país elencarem medidas práticas para o desenvolvimento da produção leiteira, com qualidade e sustentabilidade. O presidente da associação, Ernesto Krug, reforçou a importância de ser feito um diagnóstico para conhecer o perfil dos produtores de cada região e, assim, ser capaz de identificar o sistema produtivo adequado, as ações e os investimentos cabíveis.

No Rio Grande do Sul, foram organizadas viagens técnicas internacionais para técnicos e dirigentes trazerem mais conhecimento para a atividade local. Foi criado um plano de capacitação em diversos temas envolvendo quase 20 mil produtores rurais, além de reuniões periódicas. A Associação também organizou parcerias públicas e privadas e buscou crédito rural atrelado à assistência técnica.

Os membros da Associação foram divididos em grupos especializados em determinada área – mecanização, cria, recria, produção de silo –, reduzindo os custos individuais e globais. Cuidados com higiene na ordenha, vacinação, controle nutricional do rebanho, banco de sêmen, controle de mastite, pagamento por qualidade e por produtividade na entressafra são algumas outras medidas lideradas pela Associação. “Investimos ainda em Unidades de Referência para 100 litros/dia, segundo os parâmetros dos nossos programas. Assim, os produtores podem replicar o modelo para 200, 300, 500 litros/dia”, destaca Krug, que percebe o impacto de todo o trabalho no aumento do interesse do jovem em permanecer no campo.

Numa visão mais teórica, o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Fábio Homero Diniz, fala em três recomendações com vistas à sucessão na propriedade leiteira: planejamento do processo sucessório, diálogo entre pais e filhos e inclusão do jovem nas decisões gerenciais da propriedade desde cedo. Ele explica: “Os pais deveriam conhecer os projetos de vida dos filhos e os filhos deveriam ouvir as expectativas dos pais. A perda de função social e da centralidade na família pesa para o produtor deixar a atividade e repassá-la a seu filho. Ao mesmo tempo, este filho se vê desestimulado a assumir um trabalho penoso, de baixa rentabilidade e baixo reconhecimento social. Portanto, é necessário alinhar os pontos de vista para encontrar o meio de manter a atividade economicamente vantajosa”.

 

Panorama

 

Considerado satisfatório pelos participantes, o primeiro painel do XII Congresso Internacional do Leite teve como moderador o secretário de Agricultura, Pecuária e Regularização Fundiária de Rondônia, Evandro Padovani, e contou ainda com as palestras: “Fatores decisivos para o avanço da pecuária leiteira na agricultura familiar”, ministrada por Ariel Londinscky, da Federação Panamericana de Leite (Fepale) e “Sucessão da agricultura familiar – como preparar o futuro das propriedades leiteiras” com o presidente da Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios, Ernesto Ênio Budke Krug e com o pesquisador da Embrapa Gado de Leite, Fábio Homero Diniz.

O evento é realizado pela Embrapa, em parceria com o Governo de Rondônia, com  patrocínio do Sebrae, Capes, Ministério da Educação, Iepagro, Casale e Produquímica e segue até o próximo dia 8.

 

 

Carolina Pereira

Jornalista – MTb 11055-MG

Embrapa Gado de Leite

 

Wania Ressutti

Jornalista – SRTE/DRT/RO-959

EMATER-RO

 

Fotos: Irene Mendes

Repórter fotográfica – SRTE/DRT/RO-368

EMATER-RO

 

Marcos Neris

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *