Índia ingressa em universidade federal antes de concluir ensino médio em RO
Pela primeira vez em Rondônia, um estudante indígena passou no vestibular, antes mesmo de completar o ensino médio. Walelasoetxeige Paiter Bandeira Suruí, de 17 anos, ainda cursa o terceiro ano e, com a nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), já foi aprovada em direito, na Universidade Federal de Rondônia (Unir). Ela precisou recorrer à Justiça para se matricular no curso, já que ainda não possui o certificado de conclusão do ensino médio. A jovem passou nas vagas gerais e não se utilizou das cotas reservadas para indígenas. Ela também foi aprovada no curso de odontologia de uma faculdade particular.
Walelasoetxeige decidiu apelar ao Judiciário para conseguir iniciar a graduação com o apoio da família. A experiência semelhante de um colega de sala de aula também serviu de incentivo. “Um colega meu já tinha passado em direito também na Unir e entrou com mandado de segurança para ser matriculado e ele conseguiu”, conta. O direito de ingressar na universidade foi garantido à indígena por liminar concedida pelo juiz Dimis da Costa Braga, do Tribunal de Justiça do estado. No entendimento do magistrado, a Constituição Federal garante o respeito à capacidade intelectual dos cidadãos.
Para a mãe da estudante, Ivaneide Bandeira, a decisão da Justiça foi mais que um presente, a vitória significa a quebra de paradigmas e a oportunidade para outras pessoas que desconhecem os seus direitos, sejam índigenas ou não. “O juiz que deu a liminar rompeu uma barreira, que é a barreira da discriminação, tanto em relação à minoria indígena quanto à questão da idade. Ele também trouxe outra questão importante, a da valorização dos estudos”, avalia.
Esta não foi a primeira vez que Walelasoetxeige se saiu bem no Enem. Em 2013, com a pontuação obtida no exame, a estudante poderia ter ingressado no curso de antropologia. Além disso, este ano, a indígena também foi aprovada no curso de odontologia em uma faculdade particular. “Eu quero ser juíza, promotora, alguma coisa assim. Nem comecei a faculdade ainda, mas a gente tem que pensar longe”, diz a estudante. Enquanto a jovem não inicia as aulas no curso de Direito da Unir, ela continua frequentando a escola normalmente.