‘Pensei nas crianças, não queria sair’, diz gestante que perdeu casa na cheia

‘Pensei nas crianças, não queria sair’, diz gestante que perdeu casa na cheia

Grávida de seis meses e com cinco filhos menores, a dona de casa Verônica Campino, de 30 anos, não foi convencida nem pelo marido, Oscar Julian, que é pedreiro, a deixar a casa onde mora há 5 anos, no Bairro Triângulo, uma das regiões mais atingidas pela cheia do Rio Madeira, em Porto Velho. Vizinhos chamaram a polícia. Militares e assistentes sociais da prefeitura tiveram momentos a sós com a mulher, que perdeu todos os seus móveis. “Saí com a roupa do corpo. Pensei nas crianças. Mas eu não queria sair”, disse ela. Horas após a remoção da família, a casa de madeira, com um quarto, foi encorberta pela água. Três colchões e o berço da criança que nascerá em maio foram doados por comunidades que reforçam a corrente de solidariedade aos desabrigados. (Veja imagens das famílias desabrigadas)

A aposentada Clara Miranda, de 70 anos, resistiu até a água chegar à sala de sua casa de quatro quartos, feita em madeira, onde moram 15 pessoas. Quase sem voz por conta de uma virose, a idosa reclama do mal cheiro – lixo, entulho e dejetos humanos que flutuam nos quintais e nas vias públicas inundadas.

“Vamos para apartamentos pequenos. Será difícil acomodar todo mundo em dois quartinhos”, disse a aposentada, que dispensou os R$ 200 oferecidos pela prefeitura como aluguel social, por achar o valor baixo.

 

“Mal salvei a geladeira”, conta a doméstica Dominga Pereira, do Bairro Cai N’água. Perdi roupas e a mobília novinha”, lamenta a mulher, mãe de dois adolescentes e um menor, todos abrigados na Escola Marechal Castelo Branco. “Temos 18 salas cheias”, diz o diretor da escola, Jefferson Sales, que foi informado, pelo governo estadual, que a partir desta terça-feira (18) as aulas estavam suspensas. Costureira, Turmelina Colares ficou sem a máquina que lhe garantia a única fonte de renda. Divorciada, a mulher, de 45 anos e mãe de três meninas menores, divide o espaço de 3×4 com outras duas famílias. “O futuro? Não sei, meu filho. Entrego a Deus”, afirma ela.

“Viemos para dar aula, mas nos deparamos com um cenário triste. Não consegui voltar para casa”, relata a professora Sara Lacerda, enquanto abria a bolsa para colaborar com o café da manhã das cerca de 250 pessoas  abrigadas ali. Todo o dinheiro arrecadado será usado para a primeira refeição do dia, durante o tempo que for necessário, uma vez que a Defesa Civil só está garantindo almoço e jantar. “Nosso estoque é bom. Os alimentos perecíveis serão usados de imediato, mesmo com a certeza de que não serão repostos”, reafirmou o diretor da escola, referindo-se aos mantimentos que deviam ser utilizados ao longo do ano na merenda escolar.

Viúva e aposentada, dona Martta Salvatti, de 70 anos, passou cadeado e corrente no portão e abandonou tudo. “Invadiram a casa do vizinho. Quem garante que não vão entrar aqui também?”, indaga a mulher, que vive sozinha numa casa estilosa no Baixo Madeira, região com alto índice de saques.

Avelino de Amorim, caminhoneiro desempregado, também ficou sem casa. Separado da mulher, vive com três filhos e todos foram levados a uma das salas da Igreja Nossa Senhora de Fátima. A atitude dele comoveu os dirigentes da paróquia: cedeu o caminhão, de sua propriedade, para remover entulhos, com a ajuda do filho caçula. “São em média três carregamentos ao dia”, diz ele sobre a produção de lixo no ginásio e nas salas onde há em torno de 30 famílias.

A voluntária Evanir Freitas, da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, informou que “há necessidade de material de limpeza e higiene pessoal”. O padre Jaime Souza sugere que a Prefeitura de Porto velho envie pessoal para orientar as famílias sobre noções de higiene nos abrigos. “Temos situações dramáticas, infelizmente”, diz ele sobre o odor provocado pelo mau uso de banheiros. O fiscal da Vigilância Sanitária, Alencar Silveira, compareceu para coletar informações. “Cada secretaria tem sua responsabilidade. As dificuldades encontradas serão informadas ás autoridades”, disse.

Fonte:G1

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Marcos Neris

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